9.6.10

istambul

não resisti a decorar este texto com uma fotografia panorâmica de Istambul (sim, fui eu que tirei e o Photoshop compôs).
bem e agora o texto.

Taksim? Taksim? Ten lires, same price, same price! O taxista enche o carro com 4 desconhecidos a caminho da praça Taksim, bem no centro de Istambul. Piscas, não existem! Antes uma buzinadela para avisar que vem gente a trás. Pela esquerda, pela direita o taxi carregado de turcos e um português rola numa via de acesso moderna entre um mar de carros, não chocolateiras, carros a sério. Curva à direita, curva à esquerda, turcos p'ra cima do português, português p'ra cima dos turcos. Será esta a noção de melting pot? Não!
Passa já das 24 horas e finalmente chegamos à Taksim. Mas o que é isto? É 5.ª feira à noite, os istambuleses não dormem?  As ruas estão apinhadas de famílias, de grupos de jovens, de luzes, de carros, de vida.
Caminhei estarrecido Istiklal Caddesi abaixo. Uma pequena exposição de fotografias atraiu a minha atenção. Mas... esta foto faz-me lembrar uma cidade que muito bem conheço! Não! É mesmo Istambul.
Mais abaixo reconheço o aroma doce, mas de Outono, de castanhas assadas. E não é que são mesmo castanhas assadas ou kestanes como dizem os turcos.
Numa travessa por entre mesas de gente a fumar narguile, por entre montras de restaurantes que preparam comidas de aromas desconhecidos ouço as atoardas musicais de bares que procuram a atenção de quem passa. Finalmente o Hotel. Nada de luxos que os orçamentos anda pelas ruas da amargura.

Istambul é muito mais que que os circuitos percorridos entre espanhóis que berram, japoneses que fotografam, americanos que parecem mamutes humanos sempre à frente de toda a gente. Istambul é muito mais que a inacreditável e indescritível igreja ou mesquita da Santa Sabedoria, é mais que a Mesquita Azul, o Palácio de Topkapi ou o Grande Bazar. É mais, mas ficamos sempre a conhecer de menos.
Istambul é um verdadeiro melting pot de culturas, de tradições, de material genético misturado ao longo de 30 séculos que a transformou em lugar único, vivo, incrivelmente europeu e ao mesmo tempo árabe, ortodoxo, grego, curdo, arménio ou até português, como a palavra que usam para laranja: portakal! What means portakal? À pergunta obtenho como resposta: um. Torci o nariz e ao fim de mais três ou quatro tentativas de diálogo percebi que os guias de viagem não sabem o que dizem quando dizem que os istambuleses de uma forma geral falam Inglês. No hotel, nos museus, em alguns cafés e numa ou outra loja entende-mo-nos uns aos outros, mas fiquemos por aí. Confirmei mais tarde a minha suspeita de que portakal significa mesmo laranja e ao mesmo tempo Portugal. Estranho não é? Como estranho é ver na montra da Nike o manequim com o equipamento da selecção portuguesa e aos pés a bola "A equipa de todos nós".
De todos nós, quem? É que só naquela cidade vivem 14.000.000 de pessoas. De pessoas como o Volkhan, aquele professor de matemática que encontrei numa pequena manifestação contra o desemprego de professores (pelos vistos são cerca de 30.000 na Turquia). Palavra puxa palavra Ricardo Quaresma, José Mourinho, Cristiano Ronaldo, mas a seguir vieram mesmo as surpresas. Não é que o Volkhan conhece a Mariza e "uma brasileira que se chama Teresa Salgu Eiro". Expliquei que esta Teresa Salgueiro é bem portuguesa, mas caí de rastos quando ele me disse que conhecia uma outra coisa de Portugal: o "malau malau". O quê? O Malhão Malhão! Sim, por breves segundos tentei dançar e cantar o que me recordava de ver nalgumas romarias por onde passei. Nada mais que uma caricatura mal feita dos extraordinários ranchos folclóricos do nosso Minho.

Existe em Istambul uma forte presença da cultura intelectual latina. Seja pela música que se ouve nos modernos cafés e restaurantes, seja até pelo eléctrico da Istiklal Caddesi que, não sei porque razão, me faz lembrar Buenos Aires. Não sei se por fotografias, se por leituras ou se pelo simples desejo de conhecer o Sul.
A Capital Europeia da Cultura 2010 é uma cidade moderna, modernidade reflectida no surpreendente Istambul Modern, que mereceria um edifício da mão de Siza Vieira, ou nas diferentes galerias com mostras de trabalhos de artistas turcos, ou de renomeados artistas como Botero, presente no Museu Pera.

Istambul é isto, mas é tudo o resto que fica por descrever e tudo o muito que ficou por conhecer, são Igrejas com 15 séculos e Mesquitas com 5, são arranha-céus com 40 andares e arménios que coleccionam o lixo do chão, são muçulmanos que não deixam qualquer espaço livre em mesquitas às 4h30 da manhã, são turcas lindas que passeiam sozinhas pela rua, são muçulmanas tão lindas que passeiam de braço dado com os pais, são turcos de 70 anos que nos apertam a mão quase até nos vergar e explicam que tanto vigor se deve a muito iogurte e rakia, são mansões nas margens do Bósforo e quase barracas nalgumas zonas da cidade.

É uma cidade que não deve ficar por visitar.

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