Não vou escrever uma análise sobre o filme, ou os livros, da "moda". Não vi, não li, nem tenho particular curiosidade em ver ou ler. Quero antes escrever um pequenino texto sobre a forma como temos, enquanto comunidade, evoluído para extremos de preto ou branco, sendo que uns e outros apresentam densidades tão diferentes que não se poderão, nunca!, misturar.
Em artes gráficas, quando transformamos uma imagem colorida para escala de cinzentos perde-se, de imediato, uma enorme variedade de informação, mas ainda assim é possível ter uma ideia muito interessante da realidade que ali nos é apresentada. Se formos um pouco mais à frente e lhe retirarmos a escala de cinzentos, permitindo apenas preto e branco a situação muda de forma tão dramática que aquilo que, apesar de tudo, conseguíamos compreender da realidade se transforma numa grande "borrada" sem sentido.
Compreendo que a tomada de decisão, na vida privada, profissional ou na defesa de uma opinião se torna bastante mais simples quando procuramos pintar a realidade que vemos em preto e branco, sem escala de cinzas. Afinal, sobram-nos só duas opções. Se considero que nalgumas facetas da nossa vida esta visão pode até ser engraçada - para mim o FC Porto é e será sempre o MAIOR! -, na grande maioria das situações o preto ou branco representa uma simplificação, eventualmente perigosa, da realidade.
A tomada de decisão dificilmente beneficiará de um retrato da realidade em que se considera todo o espectro de cor visível. Há sempre demasiados detalhes que nos vão escapar. E escapam por razões, eventualmente circunstanciais, por limitações de tempo, de recursos técnicos, humanos ou financeiros. Mas há uma coisa a que não podemos ceder nunca, que é a tal visão em preto e branco puro. É preciso, aliás devemos mesmo obrigar-nos a procurar ver a realidade, pelo menos, com 50 escalas de cinza. Se o fizermos poderemos, muito facilmente, compreender as razões do outro, respeitá-las e, com grande naturalidade, encontrar um caminho comum e de benefício mútuo.
21.3.14
Pensar uma cidade
Este é um pequenito texto que tem como objetivo assentar algumas ideias que fazem parte da minha forma de pensar a cidade. É um texto pessoal, não representando a opinião de nenhum órgão de decisão.
Pensar o desenvolvimento de um pequeno território como é o caso de Esmoriz, julgo ser uma das tarefas mais difíceis a que alguém se pode propor. Porquê? Por três razões muito simples:
A primeira porque é um território pequeno (pouco mais de 9 km2), mas com uma população superior a 12.000 habitantes e extremamente dinâmica, quer do ponto de vista associativo - é grande o conjunto de coletividades na cidade, algumas delas sobrepondo-se na ação -, quer do ponto de vista económico, com um bom conjunto de empresas locais que alcançam sucesso internacional e garantem boa parte do mercado de trabalho da cidade.
Em segundo lugar porque tem uma localização muito exigente, entre Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Ovar e Espinho, cada uma delas com características diferentes, mas que funcionam como importantes "concorrentes" à relevância que Esmoriz tem/pode ter na região entre Douro e Vouga.
Em terceiro lugar porque, ao contrário de qualquer uma destas cidades, Esmoriz não é sede de município e ainda que considere que não é importante Esmoriz ser município (é, atualmente, uma luta sem sentido) considero também fundamentais os recursos (financeiros, técnicos e humanos) a que uma cidade sede de município tem acesso para que possa "concorrer" de forma justa com os vizinhos.
Não tendo acesso a todos esses recursos, teremos de fazer mais uso de dois outros que ninguém pode usar por nós: a capacidade de pensar e a capacidade de realizar.
Mas estas duas capacidades têm de ser usadas naquela ordem e nunca inversamente. Numa cidade tão dinâmica e ávida de mostrar que é, pelo menos, tão boa como as vizinhas, a ordem destas capacidades pode facilmente ser invertida e corremos o risco de desvirtuar um conjunto de boas ideias e boas intenções. Corremos o risco de dispersar esforços, corremos o risco de desalinhar realizações do posicionamento que se vai definindo para a Cidade, corremos o risco de, no limite, parecermos uma mixórdia de realizações, muito bem intencionadas, mas que não têm um fio condutor.
Esmoriz é, hoje, reconhecido porque razões?
Porque razões queremos que Esmoriz venha a ser reconhecido?
Há um largo conjunto de questões semelhantes a estas que importa responder, que estão a ser respondidas e pensadas e que, mais cedo do que tarde, terão resultados positivos, mas sempre naquela ordem: pensar, por pouco que seja, e depois realizar.
Como dizia a minha avó Filomena: não vás com muita sede ao cântaro que o cântaro vai partir!
Pensar o desenvolvimento de um pequeno território como é o caso de Esmoriz, julgo ser uma das tarefas mais difíceis a que alguém se pode propor. Porquê? Por três razões muito simples:
A primeira porque é um território pequeno (pouco mais de 9 km2), mas com uma população superior a 12.000 habitantes e extremamente dinâmica, quer do ponto de vista associativo - é grande o conjunto de coletividades na cidade, algumas delas sobrepondo-se na ação -, quer do ponto de vista económico, com um bom conjunto de empresas locais que alcançam sucesso internacional e garantem boa parte do mercado de trabalho da cidade.
Em segundo lugar porque tem uma localização muito exigente, entre Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Ovar e Espinho, cada uma delas com características diferentes, mas que funcionam como importantes "concorrentes" à relevância que Esmoriz tem/pode ter na região entre Douro e Vouga.
Em terceiro lugar porque, ao contrário de qualquer uma destas cidades, Esmoriz não é sede de município e ainda que considere que não é importante Esmoriz ser município (é, atualmente, uma luta sem sentido) considero também fundamentais os recursos (financeiros, técnicos e humanos) a que uma cidade sede de município tem acesso para que possa "concorrer" de forma justa com os vizinhos.
Não tendo acesso a todos esses recursos, teremos de fazer mais uso de dois outros que ninguém pode usar por nós: a capacidade de pensar e a capacidade de realizar.
Mas estas duas capacidades têm de ser usadas naquela ordem e nunca inversamente. Numa cidade tão dinâmica e ávida de mostrar que é, pelo menos, tão boa como as vizinhas, a ordem destas capacidades pode facilmente ser invertida e corremos o risco de desvirtuar um conjunto de boas ideias e boas intenções. Corremos o risco de dispersar esforços, corremos o risco de desalinhar realizações do posicionamento que se vai definindo para a Cidade, corremos o risco de, no limite, parecermos uma mixórdia de realizações, muito bem intencionadas, mas que não têm um fio condutor.
Esmoriz é, hoje, reconhecido porque razões?
Porque razões queremos que Esmoriz venha a ser reconhecido?
Há um largo conjunto de questões semelhantes a estas que importa responder, que estão a ser respondidas e pensadas e que, mais cedo do que tarde, terão resultados positivos, mas sempre naquela ordem: pensar, por pouco que seja, e depois realizar.
Como dizia a minha avó Filomena: não vás com muita sede ao cântaro que o cântaro vai partir!
4.2.13
A importância da participação social
Há dias, num jantar de amigos, alguém chamou à mesa o caso dos ovos atirados a Daniel Sampaio na conferência de imprensa do Sporting CP.
- O Daniel Sampaio, psiquiatra?! O irmão do Dr. Jorge Sampaio?!
- Sim, esse mesmo.
- Mas, porque razão é que uma pessoa com a classe, distinção e inteligência do Dr. Daniel Sampaio se mete nestas alhadas?
Porque sim, porque é um dever, porque é a mais importante mudança que a nossa sociedade precisa viver. O associativismo, o voluntariado, a ação política são a cola que une a sociedade e que dão, ou devem dar, à democracia o sustento que precisa para que seja refundada. Todos os cidadãos devem procurar participar de forma ativa na vida das coletividades que mais gostam; nas instituições sociais que desenvolvem atividades que respondem melhor às necessidades que consideramos mais importantes; na vida e nas decisões tomadas na autarquia local (nas juntas de freguesia e nas câmaras municipais); na política, procurando contribuir positivamente para a melhoria da imagem da vida política, para melhores decisões, mais honestas e mais justas.
É assim que se constrói democracia, é assim que nos aproximamos da democracia.
Mas este é um caminho difícil, quase sempre feito sem nenhum retorno financeiro, com muito investimento de tempo e disponibilidade. Mas é, na minha opinião, o único caminho para que se evitem atropelos democráticos, decisões injustas e desonestidades com consequências públicas (as privadas cada um fica com elas).
Se o Dr. Daniel Sampaio se sujeita a levar com ovos é porque sente o dever de participar na vida do clube que gosta, porque considera que há melhores caminhos para percorrer e porque acredita ter condições que lhe permitirão decidir melhor que outros.
Ficar na margem, a assobiar e atirar ovos é sempre demasiado fácil.
Na freguesia em que nasci e cresço, Esmoriz, tem-se vivido um folhetim de consequências graves para a população local e onde posso encontrar algumas semelhanças com tanta coisa má que se passa na nossa sociedade. Depois do fervor social pós-revolução, em que se viveram momentos únicos de participação (política e associativa), Esmoriz começou a sofrer lentamente de uma crescente abstenção social. A população deixou de participar na vida dos clubes (lembro que no início dos anos 80 o Esmoriz GC foi bi-campeão nacional de voleibol elevando bem alto o nome da cidade), a população deixou de participar na vida política da freguesia, a população desligou-se das decisões, deixou-se estar no passeio a ver a procissão, criticando, contribuindo para o descrédito das instituições, traçando, sem saber, um caminho perigoso que nos trouxe até hoje.
Esmoriz está, desde novembro, sob gestão de uma comissão administrativa nomeada (portanto, não eleita) pelo Governo. Porquê? Porque, democraticamente, os elementos com mandatos na Assembleia de Freguesia, que é o órgão máximo da autarquia local, consideraram que a situação que se vivia no executivo da Junta de Freguesia era insustentável e renunciaram aos seus mandatos. Isto é a democracia a funcionar em pleno.
Foi então nomeada uma comissão administrativa e agendadas eleições intercalares que resultaram na vitória de uma das listas por uma margem de apenas 4 votos. Em democracia, o ato eleitoral é fundamental e reveste-se de um conjunto de regras que importam respeitar. E no ato eleitoral do dia 13 de janeiro não foram apresentadas, em qualquer das dez assembleias de voto, qualquer tipo de reclamação que pudesse levantar algum tipo de suspeita sobre o regular processo eleitoral. Processo eleitoral que fica terminado com a realização de uma assembleia de apuramento geral presidida pelo Juíz do Tribunal da Comarca.
Pois, mas tudo parecia estar bem - votos contados, apuramento correto, atas limpas, votos nulos e brancos certificados - até que a representante de uma das listas decidiu apresentar um recurso, recurso que chegou até ao Tribunal Constitucional.
Ora então vamos lá ver. Existem procedimentos para a realização e certificação das eleições, mas há uma cidadã que resolve achar que as eleições foram fraudulentas, atira acusações em todos os sentidos, levanta suspeitas muito graves sobre tudo e todos e lança uma aura de santidade sobre si própria.
Pior que isso, como é presidente da Comissão Administrativa e primeira responsável pela marcação da tomada de posse da nova Assembleia de Freguesia, democraticamente eleita, faz arrastar o processo com um conjunto de fait divers inacreditáveis, talvez considerando que a freguesia tem mais a ganhar com uma comissão administrativa que tem apenas poderes de gestão corrente do que com a rápida reposição da normalidade democrática.
Cidadania é participar, é estar presente e é evitar que estes tiques de autoritarismo, de despotismo possam algum dia ser a realidade na nossa sociedade.
- O Daniel Sampaio, psiquiatra?! O irmão do Dr. Jorge Sampaio?!
- Sim, esse mesmo.
- Mas, porque razão é que uma pessoa com a classe, distinção e inteligência do Dr. Daniel Sampaio se mete nestas alhadas?
Porque sim, porque é um dever, porque é a mais importante mudança que a nossa sociedade precisa viver. O associativismo, o voluntariado, a ação política são a cola que une a sociedade e que dão, ou devem dar, à democracia o sustento que precisa para que seja refundada. Todos os cidadãos devem procurar participar de forma ativa na vida das coletividades que mais gostam; nas instituições sociais que desenvolvem atividades que respondem melhor às necessidades que consideramos mais importantes; na vida e nas decisões tomadas na autarquia local (nas juntas de freguesia e nas câmaras municipais); na política, procurando contribuir positivamente para a melhoria da imagem da vida política, para melhores decisões, mais honestas e mais justas.
É assim que se constrói democracia, é assim que nos aproximamos da democracia.
Mas este é um caminho difícil, quase sempre feito sem nenhum retorno financeiro, com muito investimento de tempo e disponibilidade. Mas é, na minha opinião, o único caminho para que se evitem atropelos democráticos, decisões injustas e desonestidades com consequências públicas (as privadas cada um fica com elas).
Se o Dr. Daniel Sampaio se sujeita a levar com ovos é porque sente o dever de participar na vida do clube que gosta, porque considera que há melhores caminhos para percorrer e porque acredita ter condições que lhe permitirão decidir melhor que outros.
Ficar na margem, a assobiar e atirar ovos é sempre demasiado fácil.
Na freguesia em que nasci e cresço, Esmoriz, tem-se vivido um folhetim de consequências graves para a população local e onde posso encontrar algumas semelhanças com tanta coisa má que se passa na nossa sociedade. Depois do fervor social pós-revolução, em que se viveram momentos únicos de participação (política e associativa), Esmoriz começou a sofrer lentamente de uma crescente abstenção social. A população deixou de participar na vida dos clubes (lembro que no início dos anos 80 o Esmoriz GC foi bi-campeão nacional de voleibol elevando bem alto o nome da cidade), a população deixou de participar na vida política da freguesia, a população desligou-se das decisões, deixou-se estar no passeio a ver a procissão, criticando, contribuindo para o descrédito das instituições, traçando, sem saber, um caminho perigoso que nos trouxe até hoje.
Esmoriz está, desde novembro, sob gestão de uma comissão administrativa nomeada (portanto, não eleita) pelo Governo. Porquê? Porque, democraticamente, os elementos com mandatos na Assembleia de Freguesia, que é o órgão máximo da autarquia local, consideraram que a situação que se vivia no executivo da Junta de Freguesia era insustentável e renunciaram aos seus mandatos. Isto é a democracia a funcionar em pleno.
Foi então nomeada uma comissão administrativa e agendadas eleições intercalares que resultaram na vitória de uma das listas por uma margem de apenas 4 votos. Em democracia, o ato eleitoral é fundamental e reveste-se de um conjunto de regras que importam respeitar. E no ato eleitoral do dia 13 de janeiro não foram apresentadas, em qualquer das dez assembleias de voto, qualquer tipo de reclamação que pudesse levantar algum tipo de suspeita sobre o regular processo eleitoral. Processo eleitoral que fica terminado com a realização de uma assembleia de apuramento geral presidida pelo Juíz do Tribunal da Comarca.
Pois, mas tudo parecia estar bem - votos contados, apuramento correto, atas limpas, votos nulos e brancos certificados - até que a representante de uma das listas decidiu apresentar um recurso, recurso que chegou até ao Tribunal Constitucional.
Ora então vamos lá ver. Existem procedimentos para a realização e certificação das eleições, mas há uma cidadã que resolve achar que as eleições foram fraudulentas, atira acusações em todos os sentidos, levanta suspeitas muito graves sobre tudo e todos e lança uma aura de santidade sobre si própria.
Pior que isso, como é presidente da Comissão Administrativa e primeira responsável pela marcação da tomada de posse da nova Assembleia de Freguesia, democraticamente eleita, faz arrastar o processo com um conjunto de fait divers inacreditáveis, talvez considerando que a freguesia tem mais a ganhar com uma comissão administrativa que tem apenas poderes de gestão corrente do que com a rápida reposição da normalidade democrática.
Cidadania é participar, é estar presente e é evitar que estes tiques de autoritarismo, de despotismo possam algum dia ser a realidade na nossa sociedade.
19.10.12
Do olhar português
Dizem que temos de ser consumidores conscientes. Eu concordo.
Ontem assisti a uma peça de teatro, teatro inteligente, que me fez rir, rir à gargalhada. Não é um clássico de um daqueles famosos dramaturgos russos, checos ou alemães, daqueles que depois nos fazem puxar os galões da 'basófia cultural' junto dos nossos amigos:
- Ontem fui ao Teatro.
- Ah, que bom! E o que foste ver?
- Fui ver 'As lágrimas amargas de Petra Von Kant'. Conheces?
Não. Esta é uma obra recente, que em 75 min de excelentes representações, nos mostra um olhar sobre o que é ser português, sobre o que somos, como somos. E é um olhar auto-crítico que nos enche a barriga de riso.
'O Olhar Português' foi escrito e encenado para a Capital Europeia da Cultura e pode ser visto até ao dia 3 de Novembro (de 3.ª feira a domingo, às 22h00) na garagem da Panmixia, no CACE Cultural do Porto (na Rua do Freixo mesmo por baixo da Ponte do Freixo).
Vale bem a pena!
Ontem assisti a uma peça de teatro, teatro inteligente, que me fez rir, rir à gargalhada. Não é um clássico de um daqueles famosos dramaturgos russos, checos ou alemães, daqueles que depois nos fazem puxar os galões da 'basófia cultural' junto dos nossos amigos:
- Ontem fui ao Teatro.
- Ah, que bom! E o que foste ver?
- Fui ver 'As lágrimas amargas de Petra Von Kant'. Conheces?
Não. Esta é uma obra recente, que em 75 min de excelentes representações, nos mostra um olhar sobre o que é ser português, sobre o que somos, como somos. E é um olhar auto-crítico que nos enche a barriga de riso.
'O Olhar Português' foi escrito e encenado para a Capital Europeia da Cultura e pode ser visto até ao dia 3 de Novembro (de 3.ª feira a domingo, às 22h00) na garagem da Panmixia, no CACE Cultural do Porto (na Rua do Freixo mesmo por baixo da Ponte do Freixo).
Vale bem a pena!
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24.8.12
Olheiras de panda não pagam dívidas
Ex.mo Sr. Gaspar,
Espero que comece a perceber que é impossível pagar dívidas sem produzir riqueza.
Qualquer credor que corta a capacidade e motivação para produzir das duas uma, ou é sádico e quer ver o devedor na miséria, ou gosta de ficar a chuchar no dedo. Tenho dito.
Espero que comece a perceber que é impossível pagar dívidas sem produzir riqueza.
Qualquer credor que corta a capacidade e motivação para produzir das duas uma, ou é sádico e quer ver o devedor na miséria, ou gosta de ficar a chuchar no dedo. Tenho dito.
13.8.12
Olimpismo e arcas de chá
Terminou ontem a edição dos Jogos Olímpicos de Londres. Por cá muito se falou da participação portuguesa, das desilusões e das surpresas inesperadas.
Já não pude acompanhar estes jogos como os de Barcelona em 92, mas aquilo que ficou destes quinze dias, para mim, foi uma excelente participação portuguesa, com a presença de vários atletas com resultados muito bons na canoagem, no remo, na vela, no hipismo, no ténis de mesa, no tiro, no triatlo ou no atletistmo.
Foram resultados que colocaram o nosso país entre os melhores do mundo, venderam bem caras as derrotas e dignificaram as cores do nosso país. Mais que isso, Portugal esteve presente em duas finais de importantes competições olímpicas. A final do torneio olímpico de Ténis entre Murray e Federer foi dirigida pelo árbitro português Carlos Ramos. Mas também a final do torneio olímpico de Voleibol de Praia, entre as duplas Alemã e Brasileira foi dirigida pelo árbitro português Rui Carvalho. Surpreendente, não é?!
Nós somos bons, tivemos uma muito boa participação em Londres e a nossa "medalhita", que significa apenas uma medalha para pouco mais de 10 milhões de habitantes, nos coloca à frente das 87 medalhas conquistadas pela China (1 medalha para mais de 15 milhões de habitantes) - ver aqui a análise per capita.
Mas aquilo que mais gostei nestas olimpíadas foi a afirmação (talvez houvesse muita gente esquecida) da multiculturalidade da Europa, da nossa forma de ser, da forma como respeitamos as outras culturas, como as integramos, como as aceitamos entre nós e como nos adaptamos integrando os traços culturais de outros povos, tornando-os também nossos. O respeito pelo próximo, pelas suas liberdades, pelos seus direitos são valores europeus infinitamente superiores a avaliações económicas, resgates ou tentativas de nos "pôr na ordem". Somos o que somos, e como somos porque dentro deste pequeno continente somos todos diferentes.
E pensar que aquela ilha foi civilizada à conta de uma arca de chá da nossa infanta Catarina de Bragança, que foi rainha de Inglaterra!
Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
Fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas índias flutua essa bandeira inglesa,
Fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
E para te ensinar a ser correcto já,
Coloquei-te na mão a xícara de chá.
Afonso Lopes Vieira
E agora o Rio de Janeiro!
Pela primeira vez os Jogos Olímpicos falam português.
Desta vez eles são mesmo nossos!
Aquele abraço!
Já não pude acompanhar estes jogos como os de Barcelona em 92, mas aquilo que ficou destes quinze dias, para mim, foi uma excelente participação portuguesa, com a presença de vários atletas com resultados muito bons na canoagem, no remo, na vela, no hipismo, no ténis de mesa, no tiro, no triatlo ou no atletistmo.
Foram resultados que colocaram o nosso país entre os melhores do mundo, venderam bem caras as derrotas e dignificaram as cores do nosso país. Mais que isso, Portugal esteve presente em duas finais de importantes competições olímpicas. A final do torneio olímpico de Ténis entre Murray e Federer foi dirigida pelo árbitro português Carlos Ramos. Mas também a final do torneio olímpico de Voleibol de Praia, entre as duplas Alemã e Brasileira foi dirigida pelo árbitro português Rui Carvalho. Surpreendente, não é?!
Nós somos bons, tivemos uma muito boa participação em Londres e a nossa "medalhita", que significa apenas uma medalha para pouco mais de 10 milhões de habitantes, nos coloca à frente das 87 medalhas conquistadas pela China (1 medalha para mais de 15 milhões de habitantes) - ver aqui a análise per capita.
Mas aquilo que mais gostei nestas olimpíadas foi a afirmação (talvez houvesse muita gente esquecida) da multiculturalidade da Europa, da nossa forma de ser, da forma como respeitamos as outras culturas, como as integramos, como as aceitamos entre nós e como nos adaptamos integrando os traços culturais de outros povos, tornando-os também nossos. O respeito pelo próximo, pelas suas liberdades, pelos seus direitos são valores europeus infinitamente superiores a avaliações económicas, resgates ou tentativas de nos "pôr na ordem". Somos o que somos, e como somos porque dentro deste pequeno continente somos todos diferentes.
E pensar que aquela ilha foi civilizada à conta de uma arca de chá da nossa infanta Catarina de Bragança, que foi rainha de Inglaterra!
Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: - Pois bem!
Se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
Fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas índias flutua essa bandeira inglesa,
Fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
E para te ensinar a ser correcto já,
Coloquei-te na mão a xícara de chá.
Afonso Lopes Vieira
E agora o Rio de Janeiro!
Pela primeira vez os Jogos Olímpicos falam português.
Desta vez eles são mesmo nossos!
Aquele abraço!
2.8.12
Da iniciativa privada
Quem me conhece sabe bem que sou todo a favor da iniciativa privada. Não gosto de subsídios, não gosto de dependências, gosto de fazer acontecer e gosto de quem arrisca.
Mas também gosto muito de digerir bem o que vejo, ouço ou leio.
Há dias tive de ir levantar (e pagar) uma declaração de uma 'junta médica' para um familiar. Residentes, que somos, em Esmoriz, achei estranho ter de me deslocar ao Centro de Saúde da Murtosa (para quem não conhece, a Murtosa fica a cerca de 35km de Esmoriz, encaixada bem no centro da Ria de Aveiro).
Assim que cheguei à Murtosa comecei a procurar por placas que me indicassem o Centro de Saúde. Rapidamente encontrei bonitas placas a indicar o Centro Médico da Murtosa. Lá fui eu, mas assim que cheguei percebi que Centro Médico da Murtosa é diferente de Centro de Saúde da Murtosa. Aquele era um edifício privado, tinha um parque cheio de carros, uma entrada interessante e notava-se muito cuidado, pelo menos exterior. O que procurava era um equipamento público.
Continuei na minha busca até que, sem alternativa, pedi a um peão alguma indicação.
Muito bem, assim que chego ao Centro de Saúde da Murtosa pasmei, literalmente fiquei de boca aberta. O estado exterior do edifício, que foi em tempos hospital, é inacreditavelmente mau. O parque de estacionamento em terra batida tem verdadeiras crateras, está desordenado, os 'jardins' não vêm um aparador de 'erva' há anos, o edifício está sujo, tem sinais evidentes de desleixo. Já vi edifícios abandonados com muito melhor aspecto.
Nenhum utente do serviço nacional de saúde que precise e possa optar entre ser atendido no Centro de Saúde da Murtosa ou no Centro Médico da Murtosa opta pelo serviço público. Não que o serviço público seja mau, porque não é, bem antes pelo contrário, mas o aspecto conta muito na decisão do utente.
O aspecto, as instalações, as condições de trabalho contam na decisão do utente, mas contam muito na motivação e boa disposição dos prestadores de cuidados médicos ou serviços administrativos. Na Murtosa é muito, mas muito evidente um desinvestimento nos cuidados de saúde públicos em detrimento de uma empresa privada que existe e que, com toda a certeza, tem resultados positivos.
Lamento, mas não consigo perceber porque razão o Centro Médico da Murtosa pode ser bem sucedido financeiramente e enquanto prestador de serviços de saúde e o Centro de Saúde da Murtosa não.
Lamento, mas isto não é iniciativa privada! Isto é o Estado a criar pequenos monopólios locais fruto da sua falta de capacidade para cumprir a sua função: servir os cidadãos!
Há dias tive de ir levantar (e pagar) uma declaração de uma 'junta médica' para um familiar. Residentes, que somos, em Esmoriz, achei estranho ter de me deslocar ao Centro de Saúde da Murtosa (para quem não conhece, a Murtosa fica a cerca de 35km de Esmoriz, encaixada bem no centro da Ria de Aveiro).
Assim que cheguei à Murtosa comecei a procurar por placas que me indicassem o Centro de Saúde. Rapidamente encontrei bonitas placas a indicar o Centro Médico da Murtosa. Lá fui eu, mas assim que cheguei percebi que Centro Médico da Murtosa é diferente de Centro de Saúde da Murtosa. Aquele era um edifício privado, tinha um parque cheio de carros, uma entrada interessante e notava-se muito cuidado, pelo menos exterior. O que procurava era um equipamento público.
Continuei na minha busca até que, sem alternativa, pedi a um peão alguma indicação.
Muito bem, assim que chego ao Centro de Saúde da Murtosa pasmei, literalmente fiquei de boca aberta. O estado exterior do edifício, que foi em tempos hospital, é inacreditavelmente mau. O parque de estacionamento em terra batida tem verdadeiras crateras, está desordenado, os 'jardins' não vêm um aparador de 'erva' há anos, o edifício está sujo, tem sinais evidentes de desleixo. Já vi edifícios abandonados com muito melhor aspecto.
Nenhum utente do serviço nacional de saúde que precise e possa optar entre ser atendido no Centro de Saúde da Murtosa ou no Centro Médico da Murtosa opta pelo serviço público. Não que o serviço público seja mau, porque não é, bem antes pelo contrário, mas o aspecto conta muito na decisão do utente.
O aspecto, as instalações, as condições de trabalho contam na decisão do utente, mas contam muito na motivação e boa disposição dos prestadores de cuidados médicos ou serviços administrativos. Na Murtosa é muito, mas muito evidente um desinvestimento nos cuidados de saúde públicos em detrimento de uma empresa privada que existe e que, com toda a certeza, tem resultados positivos.
Lamento, mas não consigo perceber porque razão o Centro Médico da Murtosa pode ser bem sucedido financeiramente e enquanto prestador de serviços de saúde e o Centro de Saúde da Murtosa não.
Lamento, mas isto não é iniciativa privada! Isto é o Estado a criar pequenos monopólios locais fruto da sua falta de capacidade para cumprir a sua função: servir os cidadãos!
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