10.6.10

à espera do comboio na paragem do autocarro

às cegas andamos, procurando caras, corações, mãos que, por força de vontades desconhecidas, desenham mapas iguais de navegações tocadas por ventos tempestuosos que nos levam a sair deste Porto.
navegações para fora deste Porto em que retemos o olhar cego, com medo do levante, dos novos ventos soprados de cabos nunca dobrados.
navegantes solitários nos tornámos, com o coração apertado, com a saudade da partilha de visões, de imagens, de estórias e histórias.
barcos sós num oceano de temperamentos imprevistos, onde navegamos procurando pedras no céu. procurando e voltando a encontrar aquela outra pedra rubra, aquela a que um dia, depois de muitas brincadeiras de criança, decidimos viajar para sempre.
e nesta paragem em que cegos permanecemos, o comboio não chega.

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