20.4.12

Dos marrões e de outras confusões

marrar v. intr. dar marrada; bater com a marra; turrar; esbarrar com alguém; encontrar; ficar parado e atento (o cão) ao pressentir a caça; teimar; toldar-se (o vinho) [acad.] decorar (De marra+-ar).
Esta é a definição de marrar que nos é apresentada pela 8.ª edição revista e actualizada do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

Feitas as devidas introduções vou-me dedicar um pouco ao Seth Godin e aos seus textos acerca do esquisito.
A tecnologia tem permitido à sociedade evoluir no sentido de um abatimento naquela que seria considerada uma distribuição normal de comportamentos. Desde que Henry Ford, no início do Séc. XX, desenvolveu a capacidade de produção em massa a baixo preço, toda a sociedade 'ocidental' evoluiu no sentido de promover a massa, a normalidade, o padrão. Todos pensávamos de forma idêntica, líamos os mesmos livros, vestíamos a mesma moda, víamos e ouvíamos os mesmos programas de televisão, as mesmas rádios, os mesmos discos. Quando aparecia alguém fora desta 'normalidade' era, obviamente, um anormal, ou um artista, na melhor das hipóteses.
Mas depois apareceu a TV por cabo, a Internet e ganhámos tempo, e tivemos liberdade para fazer o que quisemos, pensar como quisemos, vestir o que nos apetecia. A tecnologia deu-nos liberdade para sermos mais nós. (Sim, não foram os militares ou os políticos que nos deram a liberdade, foram mesmo os cientistas e os empreendedores).
E agora, o que é que isto tem a ver com marrar? (E que palavra tão feia!)
Agora que saímos da caixa da normalidade, temos opinião e queremos fazer alguma coisa para mudar o que consideramos estar mal, acabamos, quase sempre, por dar com a cabeça (marrar) num sistema construído para uma sociedade normal.
O que fazer então?
Diria que existem três opções:
1. Marrar até partir a lei ou a cabeça;
2. Fazer uma reunião de marrões, marrar uns nos outros e virem para a rua, uns e outros, mostrar os seus troféus;
3. Deixar de ser marrões, usar o que está por trás da testa, dar a mão à lei e ajudá-la a evoluir no sentido de uma sociedade diferente, uma sociedade que saiu da caixa.

Tomei a liberdade de legendar um gráfico da distribuição normal com base num original do livro do Seth Godin e adaptá-lo ao texto que escrevi. Diria que quanto mais afastados da caixa, mais marrões nos tornamos, os que se afastam para a esquerda e os que se afastam para a direita. E considerando que a tendência é haver um acentuado abatimento do centro atirando 'ondas' para as extremidades vejo com grande preocupação a vontade de tanto 'marrão' tomar conta disto tudo.
Perceberam!?

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