Não vou escrever uma análise sobre o filme, ou os livros, da "moda". Não vi, não li, nem tenho particular curiosidade em ver ou ler. Quero antes escrever um pequenino texto sobre a forma como temos, enquanto comunidade, evoluído para extremos de preto ou branco, sendo que uns e outros apresentam densidades tão diferentes que não se poderão, nunca!, misturar.
Em artes gráficas, quando transformamos uma imagem colorida para escala de cinzentos perde-se, de imediato, uma enorme variedade de informação, mas ainda assim é possível ter uma ideia muito interessante da realidade que ali nos é apresentada. Se formos um pouco mais à frente e lhe retirarmos a escala de cinzentos, permitindo apenas preto e branco a situação muda de forma tão dramática que aquilo que, apesar de tudo, conseguíamos compreender da realidade se transforma numa grande "borrada" sem sentido.
Compreendo que a tomada de decisão, na vida privada, profissional ou na defesa de uma opinião se torna bastante mais simples quando procuramos pintar a realidade que vemos em preto e branco, sem escala de cinzas. Afinal, sobram-nos só duas opções. Se considero que nalgumas facetas da nossa vida esta visão pode até ser engraçada - para mim o FC Porto é e será sempre o MAIOR! -, na grande maioria das situações o preto ou branco representa uma simplificação, eventualmente perigosa, da realidade.
A tomada de decisão dificilmente beneficiará de um retrato da realidade em que se considera todo o espectro de cor visível. Há sempre demasiados detalhes que nos vão escapar. E escapam por razões, eventualmente circunstanciais, por limitações de tempo, de recursos técnicos, humanos ou financeiros. Mas há uma coisa a que não podemos ceder nunca, que é a tal visão em preto e branco puro. É preciso, aliás devemos mesmo obrigar-nos a procurar ver a realidade, pelo menos, com 50 escalas de cinza. Se o fizermos poderemos, muito facilmente, compreender as razões do outro, respeitá-las e, com grande naturalidade, encontrar um caminho comum e de benefício mútuo.
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